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O absurdo chegou ao FIM

March 3, 2010

Pois é amigos, o absurdo termina aqui. Foram quase 4 anos de escrita regular (está bem, no último ano esmoreceu um bocadinho…)

Não desanimem, a boa nova é que tenho um novo blog. É um bocadinho estúpido, eu sei, estar a criar um novo espaço para escrever sobre o mesmo. Mas, de repente, apeteceu-me começar de novo.

Não vos prometo qualquer tipo de actualização. É para ir escrevendo quando tiver tempo e vontade.

Outra coisa, na edição de Março da revista Os Meus Livros encontram um pequeno texto que escrevi sobre a Capítulos Soltos. Podem ler aqui e já agora darem um saltinho à livraria.

Uma visita à Capítulos Soltos

January 24, 2010

Uns meses depois da abertura, consegui passar pela nova livraria bracarense, a Capítulos Soltos, e ter uma manhã agradável de conversa com os rostos deste projecto, o Bruno e a Marta, e a pequena Matilde.

Há muito tempo que não passava um momento tão bom numa livraria lindíssima, que se arrisca a tornar rapidamente um incontornável marco cultural de Braga.

Encontram alguns livros comerciais, mas a grande aposta recai mesmo sobre a boa literatura.

Não podia sair de lá, sem trazer a revista Ler, a última Telhados de Vidro, a antologia Intermezzi, OP. 25, de Manuel de Freitas, e A Ilha, de Giani Stuparich.

Enquanto não conseguirem visitar a Capítulos Soltos, podem ir seguindo as novidades pelo blog ou tornarem-se amigos virtuais.

Mais uma reportagem sobre o estado da Ficção Científica

January 22, 2010

Um ano depois de ter escrito uma reportagem sobre o estado da literatura de Ficção Científica para o Ípsilon, eis que a revista Tabu do Sol pega no tema e curiosamente até tem como título principal “FC à portuguesa”. Onde é que já leram isto? espreitam lá o subtítulo que aparece a meio do meu texto principal. Mais não digo, só depois de ler a dita reportagem.

Estou de regresso ao jornalismo, depois de um interregno passado a trabalhar numa tese de mestrado. No próximo mês, já vão encontrar um reportagem assinada por mim e outra jornalista nas bancas (quando sair, eu aviso). E mais coisas, loisas, mas essas só em Março, sosseguem lá os bichinhos carpinteiros ou o passarinho, como se diz na minha terra, Lisboa, claro.

um poema, por ser domingo

January 3, 2010

Um dia destes, aconcheguei-me à lareira com uma chávena de chá e intrometi-me na conversa do Manuel de Freitas e do José Miguel Silva. Fica um dos poemas que mais gostei, assinado pelo primeiro.

NEXT TO NOTHING
Não acordei com o teu corpo,
mas com um verso
que me parece agora
o mais triste do mundo:
Le tuve tan cerca.

Foi verdade, foi tão depressa
mentira – acabarmos juntos
no último bar. Ou apertar-te
em plena desrazão os ombros,
o pescoço baixo,
a cor indecisa dos cabelos.
Enquanto se partem tão
tristes os tristes copos
que nessa noite derrubei – e eras tu.

Não sei o que te disse, que
outras partes de quem foste
toquei ou perdi. De qualquer modo,
perdi. E foi, só podia ser,
demasiado triste: dois corpos
que ninguém via desciam a rua
da Misericórdia, já perto da manhã.
Aquela nenhuma distância
não pôde ser um beijo. Apenas derrota,
ressaca, mais uma canção sem nós.

Tu não sabes – e ainda bem – que
este homem te desejou todas as noites,
até que fechasse o bar. Este homem
que não deseja e que tem,
infelizmente, um nome igual ao meu.

Da próxima vez, quero estar menos
bêbedo, saber se apanhámos
ou não o mesmo táxi. Mas
«da próxima vez» nunca existirá.

Walkmen saiu em 2007 e ainda contou com a composição e paginação do saudoso Olímpio Ferreira. Podem ler uma excelente recensão aqui.

(ii) das leituras dos tempos que correm, sobre o amor

January 1, 2010

– Não! É inútil evitares-me.
– Eu não te evito, Carlo!
– Evitas-me! E, no entanto, temos de falar , como antes quiseste falar tanto, em vez de me amares como eu te amava.
– E como devia eu amar-te, Carlo? Em silêncio, deixando-me adorar como uma estátua?
– Mas o amor é mistério, silêncio. Em silêncio eu venerava-te. Bastava-me olhar para ti para ser feliz dias a fio. Não precisava de falar. O amor é um milagre e, como tal…
– O amor não é um milagre, Carlo, é uma arte, um ofício, um exercício da mente e dos sentidos como outro qualquer. Como tocar um instrumento, dançar, fabricar uma mesa.
– Tu queres dizer o sexo.
– E não é amor, o sexo? O amor e o sexo são filhos um do outro. O que é o amor sem sexo? Uma veneração de estátuas, de Virgens. O que é o sexo sem o amor? Apenas uma batalha de orgãos genitais.
– Mas então tu negas a substância imaterial do amor? Negas a sua espontaneidade e o facto de ser mais autêntico, puro, milagroso, quanto mais nascer espontâneo.

(Goliarda Sapienza, A Arte da Alegria)

das leituras dos tempos que correm

January 1, 2010

“a arte da alegria” arrancou-me às leituras moribundas do último mês e deixou-me completamente viciada. é terrível. estou a ler e penso “não acredito que isto vai acontecer” e não é que acontece mesmo?

no centro da trama temos Modesta que consegue escapar a uma vida de miséria e tornar-se uma “princesa”. pelo caminho mata e casa-se com um príncipe autista que viveu metade da sua vida encerrado num quarto. e isto é só o princípio… o romance é atravessado por uma sensualidade extrema – Modesta  vive a sua sexualidade sem qualquer tipo de constrangimentos. assistimos à vida de Modesta desde o seu nascimento e com ela acompanhamos as revoluções políticas que têm lugar na primeira metade do século XX, numa Sicília atravessada pela emergência do socialismo e do anarquismo, pela ascensão do fascismo e pelos movimentos feministas e de libertação sexual.

Goliarda Sapienza demorou 10 anos a escrever este romance que só acabaria por ser publicado 6 meses após a sua morte, em 1966. Tem um lugar cativo na  literatura italiana do século XX.

upa, publish

January 1, 2010

é altura de regressar. de escrever neste quadrado e depois, upa, publish. por momentos, até pensei em acabar com o absurdo. uma maluqueira, penso agora. não aguento muito tempo sem escrever neste quadrado e depois, upa, publish.

Zenit 3M

December 3, 2009

Fartei-me de literatura. Enchi-me tanto que andei uns dias a ignorar por completo os livros. Li-os pouco, desprezei-os ainda mais. Pelo meio, perdi-me de amores pela zenit 3m, depois de comprar uma igual à do menino que anda por aí a voar à deriva. De um rolo de 24 aproveitam-se apenas três. Esperam-me, portanto, muitos disparos (e isso agrada-me) até conseguir dominar a máquina de arremesso que nasceu na Rússia entre 1962 e 1970.

Podem ver as restante no meu Flickr.

“2666” em edição especial que nada tem de especial

November 9, 2009

edicao_especial_2666

Porque resolveu a Quetzal colocar nas livrarias uma edição especial de 2666 que nada tem de especial a não ser uma capa branca a dizer “edição especial”? É igual à capa da centena de livros que imprimiram propositadamente para o lançamento com papéis de gramagens e cores diferentes.

Mas nesta edição especial que nada tem de especial não encontramos este pormenorzinho dos papéis. Também não existe qualquer numeração dos exemplares.

É só para o leitor se sentir especial?

Da leitura e dos chocolates quentes

November 9, 2009

clarice-lispector

dias de muito trabalho, mil e uma coisa pendentes, powerpoints, chás, um chocolate quente prometido, mas até ver, gastam-se os dias  e trabalha-se uma, duas, três… até chegar às nove e correr para o quente da cama e dos livros. nos entretantos, abandona-se a dança ao verão e parte-se para os cobertores, a lareira, as castanhas e a conversa até ser dia e regressarmos novamente ao emprego e pensarmos que era tão bom só quando estudávamos.

das leituras nada tenho escrito porque ocupei as primeira noites de outono com as Cartas a Lucílio de Séneca que tinha começado a ler, mas depois abandonei à paz dos mortos.

como ninguém vive só de Sénecas e outros que tais, comecei ontem a ler A Paixão Segundo G. H. de Clarice Lispector. embora reconheça que o estilo intimista, voltado para o interior, me seja muito querido, ainda não sei se estou ou não a gostar. e pronto, era só mesmo isto que tinha dizer.

Vender Gato por Lebre

November 5, 2009

os_cinco

A Verbo acaba de lançar no mercado a colecção dos Cinco, da Enid Blyton. Pelo menos, parece. Eu pensava que era uma reedição, mas quando me deparei com o título Os Cinco – O Caso dos Piratas de DVD, alguma coisa me pareceu mal… No tempo da Enid Blyton ainda não existiam DVD’s e logo me ocorreu que provavelmente resolveram adaptar o título. Mas eu, que devorei a colecção completa durante a minha adolescência, não me recordava de ler livros tão magrinhos. Será que para além de terem adulterado os títulos, também cortaram os livros, condensando-os?

Não. Um exame redobrado da capa diz-nos que o autor é “Enid Blytons”. Estranho. O mistério é desvendado na ficha técnica. Os Cinco – O Caso dos Piratas de DVD é nada mais nada menos do que inspirado nos Cinco da verdadeira Enid Blyton. Querem vender gato por lebre? Mais um engodo.

Juro que nunca vi tal coisa na minha vida

November 3, 2009

Uma proposta de trabalho que, para além do currículo e de uma carta de apresentação, pede um talão de compra do livro Raparigas de Sucesso – Como vingar na carreira, de Hannah Seligson.

Marvel apresenta nova versão de comics digitais

October 29, 2009

marvel

A editora Marvel Comics acaba de lançar a versão 3.0 da Marvel Digital Comics Reader. Na nota de imprensa, pode ler-se que a nova versão promete uma experiência digital completamente inovadora. O leitor pode ler os comics numa só página, em duas, ou em tiras normais; tem disponível o zoom para ver os pormenores que deseja; tem acesso a nova informação sobre os mais variados assuntos, entre outras coisas. Por 4,99 dólares por mês, os subscritores têm acesso a 7.000 comics e muitos mais conteúdos adicionados semanalmente.

Podem observar nesta página algumas amostras gratuitas da nova versão.

Os e-books que vão ao ar

October 27, 2009

Philip Roth acredita que dentro de 25 anos, apenas uma minoria irá ler romances. O problema é o próprio livro enquanto objecto: “Ler um romance requer uma certa concentração e devoção à leitura. Se tu lês um romance em mais de duas semanas, não o estás a ler realmente”, diz o autor de Indignação, citado pelo Guardian. O autor acha que o livro não consegue competir com os ecrãs. Mas poderá estar enganado…

Segundo a edição online do Telegraph, os e-books estão a aumentar, por exemplo, o número de leitores nas bibliotecas. O empréstimo até tem piada e tudo. Os leitores podem aceder ao site da biblioteca a partir de casa, descarregar o e-book e depois de 14 dias o livrinho vai ao ar. Muito giro.

É Natal

October 27, 2009

Faltam ainda dois meses para o Natal, mas os potenciais presentes já estão nas livrarias: Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra, de António Lobo Antunes, Caim de José Saramago, Fúria Divina de José Rodrigues dos Santos e 2666 de Roberto Bolaño. O Símbolo Perdido de Dan Brown é colocado à venda no dia 29 de Outubro. Fico preocupada. Que livros vão os portugueses comprar para dar no Natal? Os mesmos que compraram quase dois meses antes?

blá, blá, blá, so what?

October 17, 2009

Leio agora os posts acumulados de vários blogs dedicados à literatura, depois de um interregno de uma semana e meia. Na maior parte deles, dos “principais”, como costumam dizer, encontro as mesmas notícias replicadas. Mal por mal, escolho apenas um e arrumo o assunto.

O resto do tempo online é utilizado para descobrir pérolas, como a melhor crítica que li a 2666 de Roberto Bolaño. Da mesma pena saiu outra que li com um prazer indescritível. É bom ter escritores e leitores como o David Soares na blogosfera.

“contra a manhã burra”

October 17, 2009

acordo cedo e, enquanto preparo o pequeno-almoço, vejo que o colega do quarto ao lado me roubou subrepticiamente dois ovos para preparar um puré instantâneo. o outro acabou agora mesmo de utilizar o meu detergente para a máquina da roupa, mesmo debaixo do meu nariz. estupores. regresso ao quarto e enquanto bebo o café abro à sorte o contra a manhã burra do miguel-manso e leio este poema tailandês,

Casamento de Bangkok

“disse-me

aprendi o essencial de tailandês
para não me perder na rua
saber o que vou comer nos restaurantes
dizer-lhe que a amo

mas não o suficiente para
lhe explicar o porquê

por isso
aponto com o olhar as árvores do pomar
são o nosso pequeno resguardo
de beleza

seguimos o perfume
ela sabe

depois penso que está na altura de mudar de casa.

bom dia, bom dia, mas que belo dia

October 6, 2009

Kapuściński

Papei ontem Os Cínicos Não Servem Para Este Ofício de Ryszard Kapuscinski. Não conseguiria descrever o intenso prazer que senti com a melhor conversa sobre o bom jornalismo que já presenciei. Diz Kapuscinski,

Creio que para fazer bom jornalismo devemos ser, antes de mais, homens bons ou mulheres boas: seres humanos bons. Pessoas más não podem ser bons jornalistas.

(…)

Neste sentido, a única maneira de fazer bem o nosso trabalho é desaparecermos, esquecermo-nos da nossa existência. Nós só existimos como indivíduos que existem pelos outros, que partilham os seus problemas e tentam resolvê-los ou, pelo menos, descrevê-los.

(…)

Há muitos casos como este, mas era só para dizer que no nosso ofício, muitas vezes, temos de prestar mais atenção ao que se passa simplesmente à nossa volta – que faz, exactamente, parte dos imponderabilia -, do que ao que se diz na rádio, na televisão ou nas conferências de imprensa.

Para além do jornalismo, também encontramos conversas de outras águas. Vamos por ali, escutamos Kapuscinski, até chegarmos a outra entrevista digna de memorização: a conversa entre o repórter polaco e John Berger. Diz Kapuscinski,

Habitualmente ignoramo-las. Vemos dezenas delas por dia. E não nos damos conta de que para compreender as fotografias e a literatura é necessário uma participação activa. Não conseguimos compreender as fotografias se não nos colocarmos no lugar de criadores activos.

E Berger,

Quando Kapuscinski e eu falamos de atenção, é justamente porque viramos as costas ao ecrã e procuramos regressar à vida real e aqui exige-se atenção. Às vezes é muito difícil dar essa atenção. Não é uma atenção de natureza sentimental, de modo nenhum. É aquela que as crianças aprendem na brincadeira, antes de a escola intervir fazendo com que desaprendam.

Para um jornalista, ler Kapuscinski não é um dever. É uma obrigação.

Hoje acordei com as ilustrações de Edward Gorey

October 1, 2009

gorey3

Li Donald and the…, escrito por Peter F. Neumeyer e ilustrado por Edward Gorey, e rapidamente morri de amor pelas ilustrações do segundo. É possível resistir a uma personagem destas?

edward_gorey

É obrigatório ler este excelente ensaio sobre o Edward Gorey publicado na Orgia Literária.

Conto Inédito de Roberto Bolaño

October 1, 2009

Foi publicado um conto inédito de Roberto Bolaño na revista 60 Watts. O escritor chileno não teria mais de 20 anos quando escreveu El Contorno del Ojo. Bolaño concorreu com o conto ao I Premio Alfambra de Cuentos, em 1983. Não venceu, mas conseguiu o 3º lugar.

El Contorno del Ojo está disponível aqui.