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bom dia, bom dia, mas que belo dia

October 6, 2009

Kapuściński

Papei ontem Os Cínicos Não Servem Para Este Ofício de Ryszard Kapuscinski. Não conseguiria descrever o intenso prazer que senti com a melhor conversa sobre o bom jornalismo que já presenciei. Diz Kapuscinski,

Creio que para fazer bom jornalismo devemos ser, antes de mais, homens bons ou mulheres boas: seres humanos bons. Pessoas más não podem ser bons jornalistas.

(…)

Neste sentido, a única maneira de fazer bem o nosso trabalho é desaparecermos, esquecermo-nos da nossa existência. Nós só existimos como indivíduos que existem pelos outros, que partilham os seus problemas e tentam resolvê-los ou, pelo menos, descrevê-los.

(…)

Há muitos casos como este, mas era só para dizer que no nosso ofício, muitas vezes, temos de prestar mais atenção ao que se passa simplesmente à nossa volta – que faz, exactamente, parte dos imponderabilia -, do que ao que se diz na rádio, na televisão ou nas conferências de imprensa.

Para além do jornalismo, também encontramos conversas de outras águas. Vamos por ali, escutamos Kapuscinski, até chegarmos a outra entrevista digna de memorização: a conversa entre o repórter polaco e John Berger. Diz Kapuscinski,

Habitualmente ignoramo-las. Vemos dezenas delas por dia. E não nos damos conta de que para compreender as fotografias e a literatura é necessário uma participação activa. Não conseguimos compreender as fotografias se não nos colocarmos no lugar de criadores activos.

E Berger,

Quando Kapuscinski e eu falamos de atenção, é justamente porque viramos as costas ao ecrã e procuramos regressar à vida real e aqui exige-se atenção. Às vezes é muito difícil dar essa atenção. Não é uma atenção de natureza sentimental, de modo nenhum. É aquela que as crianças aprendem na brincadeira, antes de a escola intervir fazendo com que desaprendam.

Para um jornalista, ler Kapuscinski não é um dever. É uma obrigação.

7 Comments leave one →
  1. fallorca permalink
    October 6, 2009 12:03 pm

    Grande John Berger 🙂

  2. October 6, 2009 11:14 pm

    “E os Nossos Rostos, Meu Amor, Fugazes como Fotografias” 😀

  3. fallorca permalink
    October 6, 2009 11:38 pm

    E «Aqui Nos Vemos», «Fotocópias», etc. Esse título que referes, fiquei refém da colecção Visor, há uns bons anos, com o título «Páginas de la herida» 😀

  4. fallorca permalink
    October 11, 2009 7:21 pm

    Se ainda não deste, aceita a sugestão de dares uma vista de olhos por aqui
    http://bibliotecariodebabel.com/excertos/quatro-fragmentos-de-herta-muller/comment-page-1/#comment-21024
    Letra fina 🙂

  5. October 12, 2009 11:32 pm

    Não dei, mas já andava de olho neste edição da Cotovia que não tenho conseguido encontrar nas livrarias. Obrigado pela indicação Fallorca. Estive uns dias sem net 😥

  6. fallorca permalink
    October 15, 2009 7:58 pm

    E pelos vistos, continua… A sorna dá por muitos nomes, muitos 🙂

  7. Eduarda Sousa permalink*
    October 15, 2009 8:29 pm

    A sorna dá pelo nome de tese de mestrado. Mas já acabei, acho que já, amanhã a última leitura e mando imprimir a coisa. Depois sou uma mulher livre 😀

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