Pequeno apontamento sobre as Cores da Infâmia de Albert Cossery
Este ano li mais um do Cossery – As Cores da Infâmia. Faltam-me 5. Qualquer dia chateio-me e compro os restantes, ao contrário do que escrevi aqui. Gosto demasiadamente deste sacana preguiçoso para ir doseando a sua leitura.
Esperamos 15 anos até o escritor egípcio nos apresentar a sua última obra, As Cores da Infâmia, depois de ter publicado em 1984 Uma Ambição no Deserto. Um manancial precioso, carregado da mais pura ironia, onde os vencedores são sempre os mendigos que têm como ocupação o roubo. O protagonista é Ossama, um ladrão astucioso que se veste como os ricos. Num dos seus trabalhos, rouba a carteira a um promotor imobiliário. Lá encontra uma carta que prova a responsabilidade do promotor no desabamento de um prédio que causou a morte a vários inquilinos. O centro da intriga é este. Depois é só rir com o mundo caótico apresentado por este escritor egípcio, onde o roubo ilegal dos pobres é mais legitimo que o dos poderosos.
Leiam lá alguns excertos,
– É isso mesmo que te reprovo. Não há nada de mais imoral do que roubar sem riscos. É o risco que nos diferencia dos banqueiros e dos seus émulos que praticam o roubo legalizado com a cobertura do governo. Não te inculquei a minha arte para te tornares um ladrão de cinema cuja única preocupação é não desagradar ao seu público” (p. 72)
“Nenhum regime político impedirá de roubar. Estou certo de que sempre poderei exercer a minha profissão. E esta certeza não existe em nenhuma outra categoria de trabalhadores. Alguma vez viste um ladrão no desemprego? (p. 87)
Nenhum escritor me arranca mais sorrisos do que este maldito.
É do caraças o rapaz, pá.
Brutal!
«Gosto demasiadamente deste sacana preguiçoso para ir doseando a sua leitura.» E aqui vai direitinho o prémio crítica literária 😀
Hã Hã Hã 😛
Tens um outro título para encerrar a tese: «Conversas com Albert Cossery», Michel Mitrani (Antígona) Não terás dificuldade em encontrar saldado, o gajo só teve um ar da sua graça na imprensa o ano passado, quando se esqueceu de acordar. Quase que o acordavam 😉
Tantos anos já passaram desde que li e reli as conversas com o Cossery. Já pertence à minha biblioteca (que presunção chamar biblioteca a meia dúzia de estantes repletas de livros, mas eu gosto). É bom que se mantenha descansadinho, gostamos dele assim 😀
A minha cabe num bolso, e os livros não são necessariamente de bolso
😀
Não gostei dessas conversas: pouco Cossery se passeou por ali; é sobretudo Mitrani. Se é que o meu gozo interessa.
Hugo Torres, o “gozo” das conversas, quanto a mim, consiste na pachorra de Cossery para aturar Mitrani. Quanto ao livro, é uma merda
Posso dizer que chorei esses cinco euros — que teriam sido bom contributo para uma francesinha capaz, estou certo. Ainda lhe torço o nariz quando me aparece à frente na prateleira.
É pá, eu na altura li e gostei, mas também ainda andava na casa dos 18. agora que estou mais velha e burra talvez leia com outro olhar. Irei tentar e logo vos direi algo.
Óquei, desde que não venhas com madeixas, ehehehe