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o absurdo vai de…

July 28, 2008

Férias. Vão ser 15 dias de praia, sol (ou chuva), mar e claro literatura. O objectivo é acordar cedo (tipo 6 da manhã) e ir correr à beira-mar (quem me conhece sabe que isto dificilmente se concretizará, mas sonhar nunca matou ninguém).

Na mochila vão os ensaios de Isaiah Berlin, A Mancha Humana de Philip Roth e todos os livros publicados pela jovem (e pelo que já espreitei grande talento) Inês Botelho. Não sei se vou conseguir ler tudo, mas gostava (já que não me vou conseguir levantar cedo para ir correr, aproveito para ler).

O absurdo regressará a partir do dia 15 de Agosto. E, claro, não existirá computador nem internet.

Não me vou embora sem antes deixar aqui um texto que escrevi sobre o concerto que a Rita Redshoes deu no último sábado, 26 de Julho, no Theatro Circo.

[pintura]: Caspar David Friedrich’s Wanderer Above the Mist  -1818

Rita Redshoes leva a Braga sonhos e o calor de uma noite de Verão

No final do ano, quando se fizerem os balanços, Rita Redshoes estará irremediavelmente na lista dos melhores artistas portugueses de 2008. Em plena digressão pelo país, a menina dos sapatos vermelhos foi a Braga devolver-lhe o calor com música e sonhos.

Theatro Circo, Braga, 26 de Julho de 2008

O calor já não é como antigamente e as estações andam trocadas, dizem-me. Num Verão normal, numa das cidades mais quentes do país – Braga – as esplanadas da Brasileira ou do Vianna estariam cheias. Mas não. Na Rua do Souto ou na Avenida da Liberdade, os peregrinos da noite são poucos, não existem atropelos e até os mais corajosos não se atrevem a sair de casa sem um casaco. Nem parece Verão, nem parece Braga numa noite de Verão.

Mas se o calor anda a falhar, o mesmo não se pode dizer da música (ou pode?). Até a programação do Theatro Circo anda fria. Os concertos para estes meses de férias são quase inexistentes. Temos música só em Setembro? A cultura também vai de férias? Não, porque se precisasse não teria casa quase-cheia para uma das maiores revelações musicais de Portugal no último ano – Rita Redshoes. Na mala, para além dos sapatos vermelhos, a artista que começou por acompanhar ao piano os concertos de David Fonseca traz o seu álbum de estreia – Golden Era – e ainda a simplicidade e timidez que lhe são tão características.

Mas desta vez, só para nós, Rita Redshoes apareceu mais solta, a interagir melhor com o público e sem esconder tantas vezes o olhar retraído. The Beginning Song abriu o concerto e prometeu desde logo uma noite de Verão a Braga. Rita Redshoes pediu: «Don’t walk away babe». Nós ficamos porque a voz é bonita e afinada, a presença óptima, a música ainda melhor. Os sapatos vermelhos que andaram escondidos atrás das colunas, apareceram em Choose Love. Não vale a pena enganar ninguém, toda a gente procura os sapatos vermelhos da Rita porque senão já não é a Redshoes.

Já Braga começara a aquecer quando a autora de Golden Era começou a contar a sensação que teve quando entrou pela primeira vez no Theatro Circo com o David Fonseca: «A minha primeira palavra foi ‘uau’ e depois disse uma asneira que não posso contar porque senão amanhã já está no YouTube». O público riu, a empatia já estava conquistada. Mas desengane-se quem pensava que a conversa ficava por aqui. Antes de partir para a próxima música, a ex-Atomic Bees ainda referiu que vir tocar em «nome próprio à sala mais bonita do país» era para si um «acontecimento». O primeiro single e grande êxito Dream on Girl chegou à terceira, os pés bateram, as palmas surgiram e o público acompanhou a letra.

Rita Redshoes aproveitou as pausas para conversar e revelar alguns sonhos que teve antes de vir tocar ao Theatro Circo. Num deles, uma «senhora muito grande» estava sentada num camarote, mesmo em frente ao palco, quando desatou a cantar ópera, interrompendo-lhe o concerto. O público voltou a rir, num ambiente que se adivinhava intimista e divertido.

Mas até os grandes de vez em quando escorregam… Rita Redshoes interrompeu a meio Your Waltz porque se enganou e não considerava justo continuar para os músicos que a acompanham. O público bateu palmas efusivamente e perdoou a Redshoes. O nível de exigência deve ser sempre alto, se fosse outro cairíamos em cima. Na Rita não, a estrada em nome próprio ainda é pouca, e por isso perdoamos. Housekeeper (dedicada a todas as donas de casa), Love, What is it?, Minimal Sounds e Oh My Mr. Blue rapidamente fizeram esquecer o deslize dos sapatos vermelhos. Depois de Dream on Girl, Hey Tom recebeu a maior ovação e participação do público.

Como é habitual, Rita Redshoes saiu do seu reportório e cantou You Only Live Twice, de Nancy Sinatra, imitou Bob Dylan e ainda cantou uma música de Ricky Nelson, revelando o seu gosto pela música country.

Mesmo na recta final do concerto, a cantora não conseguiu ir-se embora sem contar o «sonho vergonhoso» que teve antes de vir para o Theatro Circo. Rita Redshoes sonhou com John Lennon a pedir-lhe para tocar uma música dele no concerto. Ela respondeu-lhe que não iria tocar uma música que não era dela e ainda por cima dizer que era. Foi então que lhe apareceu Yoko Ono, ela encolheu-se e disse que não havia problema, que tocava essa música.

Na despedida, Rita Redshoes pediu desculpa por não terem mais músicas para tocar já que ainda só tinham um álbum e, entredentes, anunciou que se nós não nos importássemos ia voltar a repetir uma música. Não, ninguém se importou. Dreams on Girl encerrou o espectáculo que trouxe a Braga sonhos e o calor de uma noite quente de Verão.

[Texto publicado no Rascunho.net]

4 Comments leave one →
  1. August 4, 2008 1:56 pm

    E encontrar o local de férias, da Eduarda ? É uma tarefa que nem o Hércules conseguiria realizar. :mrgreen:

  2. August 4, 2008 6:58 pm

    Fair enough 🙂

  3. katiekeane permalink
    August 4, 2008 10:51 pm

    Adoro a Rita, se soubesse que ias ao concerto tinha ido 😛 não me perguntem porquê mas não gosto de ir a concertos sozinha, e a esse muito infelizmente não tinha quem me acompanhasse… ela parece ter um grande talento…

Trackbacks

  1. cos everything is energy and energy is you and me « o absurdo

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