Segundo rascunho sobre “2666”, de Roberto Bolaño
Depois de uma primeira parte dedicada às deambulações de Jean-Claude Pelletier, Piero Morini, Manuel Espinoza e Liz Norton em busca de um escritor desaparecido, Bolaño coloca-nos na cena principal apenas uma personagem: Óscar Amalfitano, um professor de literatura chileno que reside em Santa Teresa. Os quatro críticos conheceram Óscar quando voaram até ao México, seguindo uma pista em relação ao paradeiro do autor alemão. Aqui, descobrem que Óscar traduziu um dos livro de Archimboldi e rapidamente o tomam por um dos seus. Um estalar de dedos e Pelletier, Espinoza, Morini e Norton desaparecem completamente na segunda parte, como se nunca tivessem sequer existido.
Seguimos Amalfitano que dedica uma boa parte do capítulo a evocar a sua ex-mulher. Lola deixou-o muito cedo, acabando por morrer mais tarde com SIDA. É ele que cria sozinho a sua filha, Rosa, e à medida que ela cresce e se vai tornando cada vez mais bela começa a preocupar-se com os assassinatos que ocorrem em Santa Teresa.
Bolaño conduz-nos cegamente. O leitor está num quarto escuro e enquanto tenta descobrir a porta principal, entra em vários recantos. É nestes espaços que o autor aproveita para escrever sobre tudo, o medo, a angústia, a literatura, o cinema, etc. E a porta principal? Onde está? O que nos reserva? De vez em quando temos um vislumbre, um pequeno apontamento, perdido no meio da narrativa, sobre os estranhos crimes que estão a ocorrer em Santa Teresa. Mas é isso que interessa para aqui? É do assassino que andamos à procura ou das próprias personagens?
Uma das minhas passagens predilectas da segunda parte é quando o protagonista pendura um livro numa corda de secar roupa,
Se me ocurrió de repente, dijo Amalfitano, la idea es de Duchamp, dejar un libro de geometría colgado a la intemperie para ver si aprende cuatro cosas de la vida real.
Essa foto deve ser muito próxima do final de Bolaño. O «ordenador» não se parece nada com a metralhadora que eles usava com um processador de texto cuniforme