Primeiro rascunho sobre 2666, de Roberto Bolaño
Roberto Bolaño (1953-2003) colocou os americanos a lerem 2666. Ou melhor, 2666 é que colocou os EUA a olharem novamente para o escritor chileno porque este já tinha morrido quando o livro saiu em 2008. Depois do sucesso comercial de Os Detectives Selvagens, 2666 voltou a receber a atenção da imprensa americana ,recolhendo críticas extremamente positivas em todos os jornais e suplementos culturais de referência do país.
Um ano depois da morte do autor, 2666 já estava nas estantes das livrarias espanholas. Bolaño esperava que a sua obra-prima desse origem a cinco livros individuais, mas tal nunca chegou a acontecer, publicando-se todos os capítulos num só volume.
É da primeira parte que que para já escreverei aqui algumas palavras. Um quarteto de jovens académicos – Jean-Claude Pelletier (Francês), Piero Morini (Italiano), Manuel Espinoza (Espanhol) e Liz Norton (Inglesa) – encontram-se em colóquios para discutirem o trabalho de um escritor alemão obscuro, Benno von Archimboldi, que desapareceu do mapa, tendo sido visto apenas pelo seu editor uma vez durante décadas. Todos se vão apaixonar por Norton e o leitor irá deparar-se com um quadrado amoroso. Morini é o que aguarda em silêncio. Espinoza, Pelletier e Norton quase escorregam para um ménage à trois.
Lá para o meio da narrativa, Pelletier e Espinoza envolvem-se num terrível acidente em Londres. Julgamos que ambos estão perdidos e vão acabar por ali, a expiarem o amor cego que sentem por Norton, com as mulheres que procuram desenfreadamente nos seus países. Mas tudo passa, Bolaño é cruel, e quase nos esquecemos deste “pequeno” incidente que nos zanga com aqueles dois e nos aproxima de Morini.
Na parte final deste primeiro capítulo, Liz, Pellitier e Espinoza partem para o México porque ouviram dizer que Archimboldi poderia andar por lá. Não encontram nada e Bolaño aproveita para dar conta dos crimes que andam a ocorrer em Santa Teresa: centenas de mulheres, com sinais de violações e torturas, têm aparecido mortas nos últimos anos.
Os três parecem não dar muita importância ao assunto e seguem as suas vidas: Liz regressa a Londres e mais tarde encontra-se com Morini; Pellieter aproveita para colocar a leitura em dia e Espinoza envolve-se com uma vendedora de tapetes.
Os quatro andam por aí, perdidos, e nós seguimo-los, ávidos, sem nos importarmos muito se vão descobrir o escritor ou não. Também não sabemos muito bem porque os seguimos. Vamos e pronto. É estranho, nunca tinha sentido esta sensação com outro autor. Roberto Bolaño magnetiza-nos por completo a atenção, qual mago negro.
Deixo-vos com as últimas palavras do capítulo que pertencem a Norton,
No sé cuánto tiempo vamos a durar juntos, decía Norton en su carta. Ni a Morini (creo) ni a mí nos importa. Nos queremos y somos felicies. Sé que vosotros lo comprenderéis.
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