Sobre o amor (VII)
Houve um dia em que nos deitamos para conversar sobre o amor. Foi ao som de Silver Jews que dissecamos relações passadas, recordamos amores não correspondidos e adivinhamos os próximos. Os amores dele são todos muito racionalizados, pensei eu. Se ela avança, ele avança, se ela recua, ele recua. Os meus amores são excessivamente violentos, analisou ele. Se ele avança, eu avanço, se ele recua, eu avanço. Eu pensei: o amor não terá de ser assim? urgente, violento, vivido com todo o nosso ser? Ele pensou: o amor tem de ser comedido, pensado, doseado convenientemente, para evitarmos a dor excessiva. O dia começou a nascer, ele levantou-se e saiu, eu continuei no mesmo sítio, à espera que o pianista tocasse as primeiras notas.