Skip to content

…….

March 25, 2009

meu amor, lembras-te quando à noite líamos os romances de Thomas Bernhard e sorríamos sempre que ele escrevia “a pessoa da minha vida”? tu roubavas a expressão e quando me escrevias uma carta de amor – daquelas complexas, ardentes e pejadas de violência – colocavas no destinatário: “Zoe, a que vive algures entre London, 25, e o meu corpo”, para logo acrescentares: “a pessoa da minha vida”. éramos jovens, corríamos contra a morte e vivíamos como se as nossas vidas acabassem amanhã. era um amor desesperado, intenso, movido por algo que escapava ao nosso controlo. os nossos amigos temiam por nós: “nenhum dos dois sobreviverá ao outro”, costumavam dizer. tu respondias que um dia ainda te perderias em mim, tal era a proximidade com que os nossos espíritos, almas e corpos se tocavam. mas, perdido já tu andavas, desde o momento em que aterraste em London, 25. tu rias, eu ria. voltávamos a ler Thomas Bernhard, a sorrir sempre que ele escrevia “a pessoa da minha vida” e compúnhamos cartas de amor. e eles, os que nos rodeavam, continuavam a temer por nós, tal era a violência com que vivíamos. nunca souberam que apesar dos nossos espíritos, almas e corpos se tocarem, jamais perderam a sua individualidade – e aqui é que residia o nosso segredo, meu amor.

| …. | ….. | ……

2 Comments leave one →
  1. March 31, 2009 3:50 am

    Bernhard é um mestre a ser lido e relido.

  2. April 5, 2009 10:25 am

    sem dúvida alguma 😀

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Twitter picture

You are commenting using your Twitter account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s

%d bloggers like this: