Novo livro de Herberto Helder não será reeditado
October 12, 2008
Acabo de receber agora no meu email a informação de que o novo livro de Herberto Helder, A Faca Não Corta o Fogo – súmula & inédita, esgotou no armazém da editora e não será reeditado. Os exemplares disponíveis são os que estão neste momento nas livrarias. Lá terei eu de me apressar. É óbvio que isto tem o dedo do terrível poeta obscuro e, a bem dizer, não consigo deixar de sorrir, mesmo sabendo que poderei já não o encontrar.
20 Comments
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Já tenho um. A brilhar discretamente em cima da minha mesa.
Saudações
http://www.moretranslations.blogspot.com
Na última edição do suplemento cultural do público ( aka Ípsilon ) falavam deste livro.
De obscuro este poeta pouco tem, aquele primeiro poema das «mães» é talvez o mais límpido da nossa poesia. Só o pode considerar «obscuro» quem pensa que se lê a poesia como a prosa.
Caro Marques, pressupondo que o poema das “mães” é límpido, o seu argumento de que o poeta de pouco obscuro pouco, ou nada, tem é bastante fraco. Como deve calcular, o facto de haver em 100 pássaros um amarelo não transforma os outros 99 em amarelos. A sua generalização é mediocre. E não faça julgamentos pressipitados baseado em algo que leu a correr. Obrigado
Penso existir aqui um equívoco: utilizei a palavra “obscuro” para caracterizar o poeta e não a sua poesia (embora isto possa a alguns parecer indissociável). Não considero a poesia de Herberto Helder obscura. Considero-o a ele obscuro por se proteger da vida pública, por querer permanecer na sombra.
É pá, não se enervem. É obscuro e límpido ao mesmo tempo. E não é uma coisa nem outra ao mesmo tempo. E os argumentos são fracos e fortes. Ao mesmo tempo.
O poema das “mães” é talvez o maior furacão da poesia nacional. Obscuro e límpido.
Ah! Mas eu só abri esta caixa de comentário para dizer que também já dormi uma noite com o livro.
Sílvio gostei bastante do seu comentário em tom poético. Contudo, a argumentação em forma de generalização do Marques, se a si o convence, i will rest my case.
Rui Peres,
“pressipitados”?? Isso sim é muito grave. Experimente ver no dicionário como se escreve essa palavra.
Essa forma de escrever é medíocre. Não o faça novamente. Obrigado.
O Herberto Helder saiu da obscuridade. Muito bem-vindo 😉
Quanto ao erro que apontou ao Rui não se consuma tanto. Todos nós os damos de vez em quando 😀
Herberto, muito obrigado pela correcção.Espero que além de corrigir os erros, que eu agradeço, corrija também os argumentos expostos. Mas espero que não tenha sido pelo meu erro que não tenha percebido o que eu quero dizer. Confesso que apesar de escrever há muitos anos é me difícil expressar correctamente, para o ser mais pacóvio conseguir perceber o que eu quero dizer.
Rui Peres,
O insulto é a arma dos ignorantes, pois claro.
Se escreve assim há tantos anos, mais grave ainda, significa que realmente não domina as ferramentas necessárias.
Nesse caso faça-nos a todos um grande favor: pare de escrever.
Os campos de milhos estão aí e precisam de ser estrumados, o seu fel arrogante poderá ajudar.
Quanto ao conteúdo, e uma vez mais aponto a arrogância do comentário do Rui Peres que, para além de julgar um ponto de vista alheio (Marques) fá-lo de forma gramaticalmente incorrecta.
O único que possui privilégios de condenação de pontos de vista sobre o meu trabalho…serei eu.
Relembro que conforme já afirmei anteriormente, o trabalho do poeta é absolutamente distinto do sujeito que o escreve, sendo esta a sua única verdadeira realidade e não a vida exterior que o rodeia – fica assim explicado o dito obscurantismo ou alheamento da vida activa a que me obriguei, se assim o quiserem chamar.
Se não consigo atingir algo, desisto simplesmente? Com certeza que é uma filosofia curiosa. Talvez a filosofia dos ignorantes? Talvez, talvez. Julgar? Nem pensar nisso. Apenas acho que as palavras do Marques não provam aquilo que defende. Os poemas e o poeta, podem, ou não, serem distintos um do outro. É algo bastante subjectivo e apenas ele nos poderia responder a isso. Se o são, ou não, também não interessa. Acho que o objectivo é apreciar a sua obra e não o criador. Mas cada um sabe de si, não é verdade caro Hélder?
O único que possui privilégios de condenação de pontos de vista sobre o meu trabalho…serei eu.
Tente explicar isso ao seu patrão, caro Hélder
Rui Peres,
Agora que consegui fazê-lo descer à minha onda de frequência podemos finalmente conversar sem disputa, esse mal que assola os homens.
Não, não desista. Mas persista com humildade.
Quanto à filosofia dos ignorantes, desconheço que haja alguma, aí está um interessante paradoxo que dava uma longa conversa.
No meu caso, e dos raros testemunhos que dei à vida exterior sobre mim próprio, poderá verificar que a minha obra é distinta de mim próprio e deverá ser visceralmente desligada. Porquê? Porque a faca não corta o fogo.
Concordo que nem sempre assim acontece na criação poética.
Continuação de boas leituras a todos. Prometo nova súmula para breve.
Algo curioso. Dizer a alguém que está errado, ou que não é o mais correcto, é ser arrogante? Dificilmente estaremos na mesma frequência com esta ordem de pensamentos. Enfim, toda esta discussão não tem qualquer fim. Estúpido é o estúpido, mas mais estúpido é quem o tenta compreender. Boas escritas, caro Helder. Esperamos que, num futuro próximo, se exponha menos. Porque para cair no ridículo de discutir assuntos sem importância com um arrogante com ares de superior, mais vale ficar na obscuridade da sua cave, ou sotão. Obrigado.
É pena. Muita raiva e tristeza vai nessa alma.
“Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
Há cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções onde vivo sem orelhas
nem dedos. Onde consumo
uma amizade bárbara. Um amor
levitante. Zona
que se refere aos meus dons desconhecidos.
Há fervorosas e leves cidades sob os arcos
pensadores. Para que algumas mulheres
sejam cândidas. Para que alguém
bata em mim no alto da noite e me diga
o terror de semanas desaparecidas.
Eu durmo no ar dessas cidades femininas
cujos espinhos e sangues me inspiram
o fundo da vida.
Nelas queimo o mês que me pertence.
o minha loucura, escada
sobre escada.
MuIheres que eu amo com um desespero
espero fulminante, a quem beijo os pés
supostos entre pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues pérolas.
Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável ilusão.
Dentro de minha idade, desde
a treva, de crime em crime – espero
a felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma cidade voltada para dentro
do génio, aberta como uma boca
em cima do som.
Com estrelas secas.
Parada.
Subo as mulheres aos degraus.
Seus pedregulhos perante Deus.
É a vida futura tocando o sangue
de um amargo delírio.
Olho de cima a beleza genial
de sua cabeça
ardente: – E as altas cidades desenvolvem-se
no meu pensamento quente.”
Você, com essa frase, fez-me rir. Fez-me lembrar aquelas velhotas que quando lhe faltam os argumentos dizem:
“Ai que mal-criado.”
Você é mesmo um iluminado. Sem ler o seu poema, só com uma simples frase, criou-me um sentimento de nostalgia fantástico. Obrigado Helder.
O Herberto Helder a deixar comentários num blog? Deixem-me rir. Não sabia que agora existiam sósias cibernéticas do verdadeiro Herberto Helder. ó Rui Peres, acho que és um pouco ingénuo.
Com certeza serei. Acredito no Pai Natal e que o Benfica este ano é campeão. 😉
Caro Pseudo-herberto:
o uso da máscara até tem piada mas quando diz ” o dito obscurantismo ou alheamento da vida activa a que me obriguei”… não desejaria o mascarado dizer “obscuridade?”.
Se quer passar por Tarzan, ao menos esconda a corcunda!
para parecer herberto, acho que anda um nadinha descuidado…
O maior disparate que vejo no meio disto tudo é o livro não ser reeditado. Porquê? em nome de quê, que arrogância e elitismo! Fica só para alguns iluminados, e endinheirados lerem, os coitados que não dispunham de dinheiro, na altura que o livro saiu, ficaram a ver navios. Os outros poderão gritar: Eu tenho-o, eu tenho-o….