Lisboa e Vergílio Ferreira (ii)
H. responde-me por email à questão que coloquei no post anterior, com um texto do próprio Vergílio Ferreira:
Lisboa é um sítio onde se está, não um lugar onde se vive. Mesmo que se lá viva há 18 anos como eu. Eu o disse, aliás, a alguém, na iminência de vir: quando for para Lisboa, levo a província comigo e instalo-me nela. E assim se fez. Os livros que aqui escrevi são afinal da província donde sou. Terrorismo do trânsito, das relações pessoais, da luta em febre pela glória por que se luta ou do ódio surdo pela que calhou aos outros, terrorismo das distâncias, das relações humanas ao telefone, das cartas que nos escrevemos para de uma rua a outra ao pé, da cultura tratada a uísque nos salões do mundanismo, da individualidade perdida, da vida massificada. Vejo-me numa enfermaria do hospital, acordando estranhamente de não sei que tempo de inconsciência, com vários médicos conversando entre si e sobre mim. Pergunto de que se trata, porque estou ali. «Foste atropelado» – diz-me o meu filho, que é um dos médicos. Tenho fractura do crânio, várias contusões pelo corpo. Lisboa, selvagem, cidade bonita na claridade dos prédios, no rio das descobertas, no aéreo das colinas, meu veneno e minha sedução. Fui atropelado. Mas é talvez justo que o fosse. Porque eu não sou daqui.
Eu também não sou daqui, mas não quero ser atropelada (ainda que fosse “talvez justo”) nesta Lisboa selvagem, caótica e deliciosamente sedutora.
A justiça, quão subjectivo é esse conceito.
A pergunta a qual queres resposta é “Mas o que se passará entre Lisboa e Vergílio Ferreira?” ?
Se for respondo já =P
Aquilo que eu acho (mesmo sem ler nada do autor, a nao ser o que publicaste), acho que aquilo que se passa, é aquilo que se passa comigo! Ele apesar de viver lá, ai em Lisboa, não o vive com a intensidade do stresse que por lá habita! Vive lá fisicamente, mas recusa-se a viver mentalmente, e eu faria o mesmo se ali vivesse… mesmo vivendo a pouca distância, não suporto o stresse de lisboa!
Boa Estadia =)