Cesare Pavese nasceu há 100 anos
Hoje, 9 de Setembro, comemora-se o 100º aniversário do nascimento de Cesare Pavese (1908-1950). O diário mantido pelo escritor italiano entre 1935 e 1950, Ofício de Viver, já faz parte da minha biblioteca desde 2005. Encontrei-o num alfarrabista, por acaso, e não resisti porque já sabia que Pavese era um terrível pessimista. A edição pertence à Portugália Editora. Hoje, podem comprar a da Relógio D’Água (certamente mil vezes melhor).
Não sou uma grande leitora de diários. É um género que nunca me chamou a atenção. Mas, pontualmente, gosto de me sentar e ler as entradas, sem qualquer tipo de ordem. Cesare Pavese não é excepção: nunca o li cronologicamente, mas penso já ter lido praticamente o livro todo.
O escritor italiano suicidou-se a 27 de Agosto de 1950. Nos artigos que li, diz-se que a sua última entrada no diário é a 17 de Agosto. Bem, na minha edição, as últimas palavras de Cesare Pavese pertencem a 18 de Agosto:
A coisa mais secretamente temida acaba sempre por acontecer.
Escrevo: ó Tu, tem piedade. E depois?Basta um pouco de coragem.
Quanto mais a dor é determinada e exacta, tanto mais o instinto de vida se revolta e a ideia de suicídio tomba.
Quando em tal pensava, parecia fácil fazê-lo. No entanto, há pobres mulheres que o fizeram. O que se quer é humildade, não orgulho.
Um imenso fastio de tudo.
Basta de palavras. Um gesto. Não escreverei mais.
[sugestões de leitura]:
El escritor modélico – El País
Cesare Pavese, el solitario de las colinas – El País
Se Pavese fosse vivo, teria um blogue? E Kafka? A pergunta fará sentido? Não sei.
Não acredito que tivessem.
Não acredito que Pavese tivesse, tal era a sua tremenda solidão. Já Kafka não sei…
Acredito que Kafka também não tivesse. Sendo ele um existencialista, a solidão acompanhava o seu quotidiano.
Tenho ideia que Kafka também era um escritor extremamente solitário (e até aproveito para perguntar: poderá existir criação sem solidão?) mas conheço melhor o Pavese.
Ps – Podem perguntar-me o que tem a solidão a ver ou não com a criação de um blog. Não sei, mas parece-me que um pessoa extremamente só, que escreva para si, tem mais dificuldade em partilhar com os outros.
Ps2 – Lembrei-me agora que quase toda a obra de Kafka foi publicada postumamente pelo seu amigo Max Brod. Antes de morrer, Kafka deixou em testamento o desejo de ver toda a sua obra destruída. Mas Max Brod não cumpriu (e ainda bem)! Por isso, acho que Kafka nunca teria um blog!
Depende de que tipo de solidão estamos a falar. Uma pessoa que saia à noite e tenha imensos amigos, não tem que ser, necessariamente, uma não solitária.
Inicialmente acreditava que a solidão ( ou tristeza ) não tinha nada a ver com a criação. Pensava que um indivíduo feliz com a vida, poderia criar grandes obras. Hoje, sou mais céptico em relação a isso.
Em relação a esse ponto, continuo a acreditar que um grande génio precisa de algum solidão (e até dor) para conseguir criar uma obra-prima.
Também acredito nisso, graças a alguma experiência pessoal e algumas influências externas. 😛