o silêncio da leitura
“(…) o acto de leitura é profundamente solitário. Separa o leitor do resto da sala. Encerra a totalidade da sua consciência por trás de lábios imóveis. Os livros bem-amados são a sociedade necessária e suficiente do indivíduo que lê a sós. Fecham a porta às outras presenças e tornam os intrusos os demais. Em suma, a leitura reclama silêncio e um isolamento feroz (…) A colheita e recolha nos sentimentos no interior do silêncio de quem lê são atitudes duvidosas.” George Steiner
Nos tempos que correm, o silêncio está morto. Falo do silêncio interior e do próprio silêncio da sociedade. A leitura é um acto extremamente solitário e silencioso. Com a morte do silêncio, a leitura quase morreu. Há os que sobrevivem, os teimosos, que não se rendem à morte do silêncio, que preferem um bom livro ao ruído impertinente da vida exterior. De acordo com vários sociólogos, a pós-modernidade é caracterizada por um ruído permanente, onde a música assume um papel primordial. E o silêncio? Onde pára o silêncio? O indivíduo não consegue estar só, precisa a todo o custo da televisão, da música, da rádio, dos amigos, precisa de ruído. Daí a crescente dificuldade em ler um livro, em se concentrar. O que é terrivelmente assustador. O Homem matou o silêncio. E o silêncio é condição essencial para o estudo, a leitura.
Nos últimos tempos tenho-me aproximado cada vez mais da noite, do momento em que o mundo pára, e se consegue finalmente ouvir e estar em silêncio. O silêncio, tão maltratado, é uma condição essencial não só para ler mas para se conseguir viver (não sobreviver).
[citação: George Steiner, in No Castelo do Barba Azul, Lisboa: Relógio d’Água, 1992]
palavras certeiras, querida eduarda. muitíssimo certeiras*