um leitor do absurdo acusou-me hoje de ser uma “pseudo-intelectual“. eu respondi-lhe que até gostaria… mas a minha vida ainda é excessivamente entediante e aborrecida para o conseguir. talvez, um dia.
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Só nos transformamos em pseudo-intelectuais depois de vidas entediantes e aborrecidas… Ou se formos de esquerda… Posso deixar um lol? beijinhos
podes. ná, os pseudo-intelectuais até podem ser chatos, mas não tem vidas entediantes e aborrecidas, acho 😉 e os de direita são bem mais chatinhos 😀
em miúdo, o Vítor Silva Tavares (exemplo) era o intelectual da zona, lembra o próprio no último número 59 do Magazine Artes. pergunto-me o que lhe chamariam os pares, se a sua juventude fosse hoje… e depois fazer o jogo ao contrário: pensar o contributo que os seus 70 anos de vida deram, de esguelha, ao país. enfim.
(Ruca, a brincar que o digas, penso que há uma ligação forte a Abril neste sarcasmo – ressentimento! – da intelectualidade.)
Talvez, depois, também eu seja acusado de pseudo-intelectual intelectual, mas arrisco e deixo aqui, primeiro, uma definição de Walter Benjamin sobre o que ser «intelectual». Diz ele que um intelectual tem «preguiça no coração», algo a que ele designa por «acedia». Pessoalmente, embora amiúde seja assaltado por citações que se derramam dos livros de Benjamin no meu blogue, não me revejo nessa definição. Prefiro, antes, responder negativamente à pergunta «Ser feliz é imoral?», que faz o título de um livro de António Pinto Ribeiro [não o ministro, o outro] que li há tempos sobre como se pode ser simultaneamente culto e feliz.
Prefiro antes a definição de Maurice Blanchot que diz que o intelectual é «uma parte de nós mesmos que não apenas nos desvia momentaneamente da nossa tarefa mas que nos conduz ao que se faz no mundo para julgar e apreciar o que se faz». Ora, não é por aqui que se é ou não entediante.
Eu estava naturalmente a brincar: não basta ter uma vida excitante para se ser intelectual como não basta ter uma vida entediante e aborrecida para não se ser intelectual. Mas gosto da citação de Benjamin: «preguiça no coração».
Hoje em dia há uma tendência assustadora para se rotular negativamente uma pessoa que gosta de música, literatura, cinema, teatro… de “pseudo-intelectual”. Especialmente, se se fugir aos gostos das massas.
Para não se ser “pseudo-intelectual” temos de ser (ou então parecer) estúpidos e gostar do que vende, do que a maioria gosta.
Mas pior do que isto é acharem que os indivíduos que rotulam de “pseudo-intelectuais” nem gostam, por exemplo, dos livros esquisitos que lêem. Os “não-pseudo-intelectuais” acham que apenas os lemos para mostrar aos outros o quanto somos cultos.
Nada mais errado: não acredito que uma pessoa passe anos a ouvir música clássica, ou a ver filmes independentes, ou ainda a ler livros de uns autores desconhecidos, só para mostrar o quanto é erudito. Não é possível representar durante tanto tempo.
Se se têm determinados gostos que perduram e evoluem no tempo é óbvio que só pode ser por gosto.