o trampolim
às vezes recordo-me dos primeiros livros que li depois da fase d’ Os Cinco ou Uma Aventura… e quase me envergonho. autores assumidamente pimbas e de fraca qualidade, livros de auto-ajuda inenarráveis. hoje, quando olho para alguns deles dá-me vontade de vomitar e acabo sempre por pensar: “como é que eu consegui ler isto e, pior, ter gostado muito na altura?”. mas grave-grave seria terem passado estes anos todos e eu continuar a consumir o mesmo tipo de produtos culturais.
e se este pensamento/constatação parece demasiadamente óbvio e simplista, na prática, não é assim. continuo a ver, por exemplo, grandes leitores a consumirem sempre o mesmo tipo de livros. sem darem qualquer salto qualitativo, mergulhados na letargia dos livros descartáveis. porque, supostamente, à medida que a pessoa aprende mais, exige mais.
contudo, sempre defendi que entre não ler nada e ler o mau, mais vale continuar a ler o mau. entre não ler nada e ler o panfleto do Lidl, mais vale continuar a ler o panfleto do Lidl. entre não ler nada e ler as revistas cor-de-rosa mais vale continuar a ler as revistas cor-de-rosa.
mas era bom que o salto se desse mais rapidamente. que os leitores de jornais gratuitos sentissem vontade de começar a comprar jornais. que os leitores de livros-entretenimento sentissem vontade de ler obras mais duras e exigentes. que os leitores de panfletos de supermercado, começassem a sentir vontade de comprar livros de cordel. mas é tão lenta, esta coisa.