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Poesia na Universidade do Minho

November 21, 2007

Ontem, o Grupo de Alunos de Comunicação Social (GACSUM) levou a cabo mais uma grande iniciativa: distribuiu poemas pela Universidade do Minho para assinalar o Dia dos Direitos Internacionais da Criança. O TUM já o tinha feito uma vez. Nós aproveitámos a ideia e pretendemos continuar a levar poesia ao coração dos estudantes da UM pelo ano fora, assinalando datas importantes. A intenção, a candura e simplicidade do gesto foram, na minha opinião, muito bonitos. Porque é nos pequenos actos que se revelam grandes intenções. Mas o mais importante disto tudo foi contarmos com dois inéditos de dois poetas e amigos cá da zona: João Ricardo Lopes e Cláudio Lima. Foi bonito pá, ai se foi.

Criança
Sem palavras ou gestos coerentes
resta-lhe o sorriso
amplo e límpido. Abre-o
como girassol em jubilosas manhãs
de primavera.

Haste delgada e débil, indefesa,
exposta ao sabor do vento
na imensa planície em derredor.

E no entanto vibra e se agita
como se dos longes do horizonte
estrelas ou miragens lhe acenassem
com códigos perfeitos e propícios.

Tem diploma universal de cidadania
mas quantas noites inteiras
um tenebroso e cúmplice silêncio
povoado de monstros verdadeiros
lhe sacode o berço de presságios.
Cláudio Lima 19.11.07

criança

São claras as crianças como candeias sem vento,
Seu coração quebra o mundo cegamente.
Herberto Hélder, A Colher na Boca

calo-me sabendo embora que jamais hei-de calar-me.
sou uma criança contorcendo-se de estradas
uma criança ou uma rosa, não sei bem
com o céu nas mãos embebendo-me o corpo

calo-me, estrangulado pela visão do mundo
uma parte e todas as partes do mundo
um veneno que nos dilata os fémures
nos acrescenta nos músculos outros músculos
e massa encefálica na massa encefálica
e de súbito somos enfermos, derivados de outros tempos
arrastamos uma agonia acesa sem nome
deixamos de compreender o ritual dos rios
a armadura das árvores, o canto dos pintarroxos
somos imbecis, doentes, adultos

anoto estas coisas aos trinta anos
deduzo que me fiz infectar desse mal ou deslembrança
preso em mim sem me reconhecer ao certo
quando ao longe vibram ainda certas antigas sonoridades
como o chocalho dos rebanhos ou a passarada
por cima dos telhados de colmo

se pudesse, se tivesse tempo, ia erguer na lama
castelos de timbre feérico e permanecia neles
insondável como uma pedra e doido como uma pedra
incapaz de ser outro e sem vontade de ser outro

é puramente verdade
nenhum risco teria valido a pena
nenhum fogacho me teria abandonado
bastava-me ser eu, bravo e solto como as ervas
João Ricardo Lopes

2 Comments leave one →
  1. November 21, 2007 1:19 pm

    o TUM? o TUM, pá? que vergonha! crédito a quem de direito, pá! sua vermelha!

    pronto, pronto – estou a deixar-me levar pela piada e a exagerar. 😛

    mas não foi obra do TUM isso, mas do Rascunho e do Tributo aos Poetas. de resto, fazem muito bem em reaproveitar. 😉

  2. November 21, 2007 1:22 pm

    oh desculpa o equívoco. bem me parecia que o Rascunho tinha metido o dedo 😉

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