aulas de escrita criativa
Há uns anos, tive uma aulas de escrita criativa. Fui mais por curiosidade, do que por outra coisa. O nome do professor, reconhecido poeta e crítico literário da nossa praça, também me moveu. Mas depois, ai que dores, ai que dores. Como sai de lá triste, com o coração nos pés, os olhos na calçada. A escrita, a arte de juntar palavras, foi tratada como um simples joguete, de constrói, reconstrói, apaga, cospe, lambe. Escrever era aquilo? É assim que se constrói belas metáforas? Acredito que sim, que se pode escrever bem, sem muita imaginação. Que é possível ser um bom escritor sem ter talento algum. Com umas aulas, esforço e dedicação, edita-se um livro. Mas vai ser, muito provavelmente, mais um, entre os milhares editados por ano.
Agora, o verdadeiro génio literário, os autores memoráveis, têm de ser muito mais do que isto. Para além do talento, precisam da paixão, do ardor, do amor. De algo que não se aprende em aulas de escrita criativa. Vai para além disso. Tem de ir para além disso. Espero que vá para além disso. A partir do momento em que deixar de acreditar que vai para além disso, a literatura morre, para mim.
o absurdo 
Como tudo na vida… há o bom e o mau. Lá porque essa aula foi algo de negativo, não creio que seja algo assim tão “horrível” existirem aulas de escrita criativa. Também acredito que alguém que não tenha o menor dom da escrita não é com meia dúzia de aulas de escrita criativa que vá passar a escrever algo coisa que preste. Se pensarmos bem, há dezenas de (pseudo)escritores por aí a vender toneladas de livros que nem devem saber o que é escrita, muito menos criativa.
É tem que ter paixão mesmo pelo que faz, não dá para fugir disso, é tão claro, percebemos mesmo a verdade que tem nas obras ou que não tem.
Excelente reacção: cultiva-se demais a ideia de que tudo se aprende sem tempo, sem inspiração, sem esforço…a moda é grande, e perigosa. Ainda bem que a Eduarda deu por isso.
O problema dos cursos de Escrita Criativa, em Portugal, é que apostam quase exclusivamente nos exercícios, e não ensinam “como fazer”. Esquecem assim toda a parte teórica. Porquê? Porque a maior parte dos formadores, no nosso país, não conhecem a teroria, nem apresentam as condições essenciais para o serem:
a) Terem publicado diversos livros;
b) Estarem habilitados para a docência;
c) Terem eles próprios frequentado cursos de EC;
d) Terem investigado e escrito sobre o tema.
Quando leccionei EC aos meus alunos, no mestrado em Comunicação e Expressão, na UCP, procurei sempre explicar as inúmeras técnicas, discuti-las e incutir neles o gosto pela subversão destas. Sem técnicas, sem teoria, a prática resume-se a meros jogos com maior ou menor interesse, como diz, e muito bem, a Eduarda. Muitas vezes, quando os alunos perguntam a esses formadores como se constrói uma personagem, se faz um parágrafo inicial, se estrutura uma narrativa de acção ou um conto de personagem, qual o código técnico-compositivo de um guião, ficam sem saber que resposta dar. Os cursos NÃO são apenas exercícios. E, por isso, a generalidade dos cursos de EC em Portugal são gato por lebre e não chegam aos pés do que se faz noutros países. Daí a legítima desilusão de muitos alunos.
Aproveito para vos convidar a visitarem a minha página – onde poderão ler ensaios meus com técnicas, ler exercícios, consultar citações de escritores reputados, etc.:
http://escritacriativa.googlepages.com
Um abraço,
J.
gostaria muito de poder ver a página mencionada: http://escritacriativa.googlepages.com
mas não consigo acessá-la…
alguém conseguiu?