sobre Eduardo Prado Coelho (1944-2007)
Ainda não ligava muito ao mundo, quando comecei a seguir religiosamente as crónicas de Eduardo Prado Coelho. Mal o Público entrava em casa, eu lia sempre em 1º lugar O Fio do Horizonte. Depois cresci, a vida tornou-se aborrecida e passei a dar primazia às pranchas do Calvin & Hobbes. Contudo, nunca me lembro de ter o Público e não ler a coluna do EPC, excepto quando ele não escrevia. E nos últimos tempos, infelizmente, foram muitas. Foi EPC que me apresentou Sartre numa das suas crónicas e me atirou para os existencialistas. Também recordo os inúmeros textos que escreveu sobre a leitura e o prazer de ler. Alguns devem estar guardados, algures.
Numa excelente ideia, o Público disponibiliza on-line o acesso a alguns textos de EPC publicados desde 1998.
EPC, que cultivava uma atitude aristocrática, não tinha preconceitos pseudo-intelectuais. Era capaz de escrever sobre o “nosso” Sporting e, mesmo assim, ser lido por quem detesta futebol. Porque quando escrevia sobre futebol abordava o fenómeno como uma pessoa normal. Com coração, cabeça e estômago. Também por isso, sendo um homem assumidamente de esquerda, chegando, às vezes, a escrever como se de um “spin doctor” do PS se tratasse, era lido e respeitado em todos os quadrantes políticos. Porque era livre nas suas escolhas, nos seus elogios e nas suas críticas. Desde a fundação do jornal “Público”, em 1990, EPC escrevia diariamente sobre as grandezas e as misérias da cultura, da política e da sociedade portuguesas, a partir dos episódios do quotidiano. Tinha amigos de estimação. E inimigos também. Como qualquer ser humano marcante e perene.