Günter Grass
Recentemente, o escritor alemão Günter Grass revelou que, aos 17 anos, integrou as forças nazis SS. A revelação foi vista como uma estratégia de marketing para Grass vender a sua autobiografia, pronta a sair. Sobre este assunto, já com cheiro a mofo, deixo aqui as seguintes notas:
1. Günter Grass não integrou a corporação como voluntário mas porque foi enviado para uma divisão das SS. Desta forma, o acontecimento tem uma importância menor já que não foi uma opção consciente do jovem escritor mas algo que lhe fugiu da vontade própria.
2. O que tem suscitado mais frenesim é Grass ter permanecido em silêncio sobre o seu passado durante 60 anos e só agora, aos 78 anos, vir a público revelá-lo. Mas por que carga de água havia Grass de se sentir obrigado a revelar este facto? O facto de ter sido “obrigado” a alistar-se nas SS retira valor e mérito à sua obra? E ao percurso político coerente que seguiu no resto da sua vida? Quem somos nós para o julgarmos?
3. Na autobiografia, Grass teve necessariamente de se expor e contar este episódio da sua vida e se só escreveu a autobiografia aos 78 anos, pois é aos 78 anos que revelou este acontecimento.
4. Creio que é preciso saber separar a obra do escritor do homem!? Embora às vezes seja difícil. Picasso ou James Joyce, por exemplo, eram conhecidos por trataram horrivelmente mal as suas esposas. Isto diminuiu a obra que nos deixaram!?
Nem retira nem acrescenta no caso do Grass-que e chato e macudo como o caracas.
Mas nao sei se consigo dissociar completamente um escritor da sua visao ideologica do mundo… e um escritor que escreve bem a defender uma coisa como o nacional socialismo pode ser especialmente perigoso.
Assusta-me antes um intelectual vendido às razões de mercado; assusta-me que os jornalistas de órgãos de ‘referência’ tenham compactuado com a campanha. Em 78 anos de vida é esse o caso mais marcante da existência de Grass? Por que foi tal avançado com antecedência?
Espero que o senhor venda muito, como parece ser seu intento, e que tenha um resto de vida desafogado.
Obviamente que esse facto não invalida o seu valor (e da sua obra) enquanto escritor.
A questão é: pode um homem que foi uma referência ética e moral, que não se absteve de assumir esse papel, que não deixou de criticar várias atitudes de vários indivíduos por não estarem conforme os princípios éticos e morais, esconder um facto tão importante da vida dele?
Ainda se levanta outra questão: não escondeu ele esse facto por saber as consequências que isso teria na sua vida, quer literária quer de líder político e de opinião?
Em qualquer dos casos não deixa de ser um grande escritor. E, para mim, um grande escritor, como qualquer grande artista, não tem de ser uma pessoa exemplar (tal como escrevi no meu blog).
Com isso já não concordo, até porque a culpa não é dele: da Juventude Hitleriana (para onde iam todos, a querer ou não) passou para as SS por ter um palmo de testa. Não me parece que seja por aí… Continuo a pensar em comercialismo.
Não arranjas pior Português vivo que o senhor José Saramago, e chamar-lhe Português já é uma sorte, mas isso não invalida a qualidade da sua obra.
O Arthur C. Clarke ao que se sabe é pedófilo, isso torna-o pior escritor?
A questão é que são pessoas péssimas, na minha opinião, mas a sua obra é superior a elas. E como dizia Zoran Zivkovic durante uma entrevista ao Filhos de Athena, mal um escritor acaba a sua obra e a publica, ela é do leitor, não dele.