Sobre os Clássicos
Não dispenso todos os sábados, a habitual crónica de Rui Tavares no Público. Hoje, escreveu sobre a leitura obrigatória dos clássicos na escola, a propósito de uma sessão organizada na Casa Fernando Pessoa, intitulada “Os clássicos devem ou não ser estudados na escola?”.
A resposta é não, definitivamente não. Ou se sim, deveriam ser criados outros programas e/ou métodos de ensino para o fazer. Todas as leituras obrigatórias se tornam intragáveis e exasperantes. Há um prazo a cumprir, há um resumo a entregar, há notas a fazer, há a pressão de uma avaliação na retaguarda… A leitura que deveria ser um acto de descoberta, apetecível e prazenteira torna-se completamente enfadonha. E não estou a falar de “prazenteira” no sentido de simples, de não nos obrigar a fazer um esforço intelectual para evoluirmos. Não, o agradável pode e deve ser encontrado no difícil, no desafio de querer saber mais. Mas adiante: nas escolas impõem-nos simplesmente um livro, à parte dos gostos literários de cada um. É óbvio que seria complicado para os docentes se cada um pudesse escolher livremente uma obra, mas pelo menos poderiam disponibilizar uma listinha de livros/autores da época/corrente que estivéssemos a estudar no momento. Como toda a gente, também eu levei com os Maias no canastro. E detestei, simplesmente detestei! No verão seguinte voltei determinada ao Eça para verificar se a minha desventura com os Maias tinha sido fruto do estilo literário de Eça ou da pressão exercida sobre mim para ler essa obra. Peguei no Crime do Padre Amaro e li-o de fio a pavio. Não só passei a apreciar Eça como comprovei que se tivesse chegado aos Maias de outra forma teria certamente gostado.
Sobre este assunto, uma descrição do que se passou na Casa Fernando Pessoa aqui.
E eu que nem gosto da Filomena Mónica assino por baixo a intenção: fuzilamento aos autores dos currículos.
‘Todas as leituras obrigatórias se tornam intragáveis e exasperantes’
Qualquer tema é potencialmente interessante – os clássicos são um exemplo dentro da classe, e não uma excepção. A obrigatoriedade de estudo de um qualquer tema é potencialmente desmotivante – um problema transversal a qualquer área. Quanto à Filomena Mónica, não li, embora conheça a sua opinião acerca do sistema de ensino, mais especificamente os conteúdos programáticos… 😉
Em relação a Eça de Queiroz, passou-se sensivelmente o mesmo comigo. Li O Crime do Padre Amaro sem pressão e de uma assentada. Embora não obrigado a ler Os Maias (já sou velhote), nunca consegui lê-lo. Tenho aí na prateleira mas só de saber que é de leitura obrigatória no Secundário, tira-me a vontade de ler.